FAMÍLIA TABOADA NA PARÓQUIA DO RIO VERMELHO


 

Nelson Almeida TaboadaPresidente da

Casa de Cultura Carolina Taboada,

em palestra na Biblioteca Juracy Magalhães Júnior,

Salvador - Bahia.

 

 

A relação da Família Taboada com o Rio Vermelho começou no dia da chegada do meu avô, José Taboada Vidal, nesse bairro, em 22 de novembro de 1892, quatro dias antes dele completar 15 anos. Era espanhol, nascido em Cerdedo, município localizado na província de Pontevedra, região da Galícia.

 

Meu avô chegou para trabalhar num armazém de um patrício, no Rio Vermelho, então um próspero balneário turístico, o primeiro da Bahia. Nesta época, a Igreja do Rio Vermelho, esta mesma que fica no Largo de Santana, era uma capela pertencente à Paróquia de Nossa Senhora da Vitória.

 

Quando ocorreu a emancipação, ou seja, a criação da Paróquia de Sant’Ana do Rio Vermelho, em 5 de abril de 1913, José Taboada Vidal já era um comerciante bem sucedido no bairro, dono de um importante estabelecimento, o Armazém Rio Vermelho, localizado no Largo de Santana. No ano seguinte, nesse mesmo logradouro, abriu a sua segunda casa comercial, a luxuosa Confeitaria Oceânica.

 

O movimento para o surgimento da Paróquia do Rio Vermelho foi liderado pela Irmandade da Gloriosa Senhora Sant’Anna do Rio Vermelho, cuja fundação havia sido oficializada em 22 de julho de 1882. José Taboada Vidal era membro ativo desta Irmandade.

 

No Rio Vermelho, onde se estabeleceu desde que chegou da Galícia, José Taboada também constituiu família. Dos sete filhos que teve no casamento com Amália Souza Taboada, seis nasceram no Rio Vermelho e foram batizados na Igreja de Senhora Sant’Ana do Rio Vermelho. Somente um, por ter nascido em Vigo, na Galícia, não foi batizado no Rio Vermelho. Mas os sete fizeram a primeira comunhão na Igreja do Largo de Santana.

 

Em 1918, ano do nascimento do último filho de José Taboada, o pároco Arlindo Vieira da Rocha, fez o seguinte registro na página 6 do Livro de Tombo da Paróquia do Rio Vermelho:

 

Aos treze de outubro de mil novecentos e dezoito, após a Missa Conventual, realizou-se com pompa a cerimônia da bênção do Sacrário, completamente reformado. Paraninfaram o ato os Excelentíssimos Senhores Coronel Francisco Pereira, Coronel Daltro de Castro, Coronel Manoel Abdon Machado, Manoel Sobrinho Gonçalves (Cônsul da Espanha), José Taboada Vidal, Temístocles Rocha, Major Arthur Pereira, Coronel Antônio Aguiar, Doutor Honório da Silva, Coronel Joaquim Fonseca, Aloysio Guimarães, Coronel César Cachoeira da Silva, Mário Manso e Herculano Raphael da Cruz.

 

Essa era a elite social e econômica do Rio Vermelho. Certamente todos pertenciam à Irmandade da Gloriosa Senhora Sant’Ana do Rio Vermelho. Alguns possuíam moradia  fixa no Rio Vermelho, como José Taboada. Outros residiam no centro da Cidade do Salvador, mas eram donos de sobrados, casarões e palacetes no Rio Vermelho, onde  veraneavam. Na época desse registro, o meu avô estava com 40 anos de idade.

 

Vou dar agora um salto de quatro décadas, para chegar a 1962, ano do início da construção da nova Igreja Matriz do Rio Vermelho, um sonho acalentado pelos paroquianos desde a criação da Paróquia do bairro, em 1913. Depois de uma tentativa fracassada e de muita discussão sobre o local onde deveria ser construída uma igreja maior, finalmente o projeto da nova Matriz começou a sair do papel. Meu avô, aos 84 anos, engajou-se na execução das obras e se transformou, segundo o próprio pároco, Antônio da Rocha Vieira, no ‘Timoneiro da Nova Igreja’.

 

Mas não foi somente ele o representante da nossa família na construção da nova Igreja Matriz. Houve ainda a participação relevante de três de seus filhos: Nilza, Nelson e Affonso, de duas noras, Antonieta e Karla, e de um jovem neto, eu, que trabalhava na Cerâmica Santa Maria, presidida pelo meu pai e que muito também colaborou na construção da nova Matriz de Senhora Sant’Ana do Rio Vermelho.

 

Meu avô não viu a nova Igreja Matriz totalmente concluída, pois faleceu em 2 de maio de 1967, há 85 dias da inauguração. Em fins de abril, aos 89 anos, acometido por uma gripe, recolheu-se à cama e o médico da família não diagnosticou nada de grave. Mas, os filhos se assustaram quando ele fez uma profecia: “Não passo de amanhã”. E determinou como queria o velório e o enterro. Fez também um pedido inusitado: “Peçam que, ao invés de flores, coroas e capelas, que depositem um óbolo para o término da construção da Igreja de Senhora Sant’Ana”.

 

No anúncio fúnebre, publicado nos jornais de Salvador, constou essa última exigência de José Taboada Vidal. Resultado, no velório, realizado na Igreja do Largo de Santana, a quantidade de óbolos foi de tal monta que deu para concluir a nova Igreja Matriz, que pode ser inaugurada em 26 de julho de 1967, dia da Santa Padroeira do Rio Vermelho, Senhora Sant’Ana.

 

Durante as pesquisas finais para a elaboração do livro ‘100 Anos da Paróquia do Rio Vermelho’, cujo lançamento ocorrerá hoje, à tardinha, no Salão Paroquial da Igreja Matriz, que o autor, Ubaldo Marques Porto Filho, que é também o biógrafo da nossa família, descobriu - entre os documentos do arquivo pessoal da minha tia, Nilza Taboada Souza, que foi presidente da Liga Católica Nossa Senhora Sant’Ana do Rio Vermelho -, o documento mais antigo que se conhece sobre a Igreja do Rio Vermelho: o Livro do Compromisso da Irmandade da Gloriosa Senhora Sant’Anna do Rio Vermelho, datado de 1882. Portanto, a fundação dessa Irmandade antecedeu em 31 anos à criação da nossa Paróquia.

 

Como o livro se encontrava em deplorável estado de conservação, o Mosteiro de São Bento da Bahia, atendendo solicitação da Casa de Cultura Carolina Taboada, procedeu a restauração desse importantíssimo documento histórico através do seu Laboratório de Restauração. Com isso, cópias desse documento, que foi também digitalizado, poderão ser levadas ao conhecimento público e disponibilizadas para consultas em algumas bibliotecas, sendo que a primeira das cópias tenho a satisfação de oferecer ao acervo do Memorial Caramuru, setor da Biblioteca Juracy Magalhães Júnior que cuida da memória do Rio Vermelho.

 

Por último, quero deixar registrado - neste dia histórico, das comemorações do Centenário da Criação da Paróquia do Rio Vermelho -, o meu protesto contra a utilização atual da antiga Igrejinha do Largo de Santana, onde a história da Paróquia começou e que, lamentavelmente, não está fazendo parte das comemorações do dia de hoje.

 

Com todo o respeito e admiração que tenho pelo padre Ângelo Magno Carmo Lopes, ele precisa ir para a arena da luta pela retomada da Igrejinha do Largo de Santana, que nunca deveria ter sido desvinculada do comando da nossa Paróquia.

 

Será que o novo Arcebispo, Dom Murilo Krieger, tem conhecimento da questão que envolve a primeira Igreja Matriz do Rio Vermelho, símbolo religioso e arquitetônico do nosso bairro, que é um patrimônio de propriedade da Arquidiocese de São Salvador da Bahia?

 

Meu pai, Nelson Taboada Souza, e meu avô, José Taboada Vidal, devem estar, como eu estou, bastante tristes com a total desvinculação da antiga Igreja Matriz da sua Paróquia.

 

Sugiro que, com a retomada da antiga Igreja, uma necessidade impostergável, ela passe a ser gerida por uma Irmandade, onde, a exemplo das existentes nas Basílicas do Senhor do Bonfim (sou irmão de lá) e de Nossa Senhora da Conceição da Praia, se trabalha exclusivamente em real benefício da Igreja.

 

Finalmente, sugiro que a antiga Irmandade da Gloriosa Senhora Sant’Ana do Rio Vermelho seja reativada, para que possa reagrupar integrantes em condições de contribuírem com a nossa Paróquia, que se ressente de um braço forte, principalmente na área financeira.

 

Muito obrigado a todos.

 

Rio Vermelho, 5 de abril de 2013,

Dia do Centenário da Paróquia do Rio Vermelho.


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