Palestra de Nelson Almeida Taboada


Os Caminhos de Santiago e os Caminhos da Família Taboada



Em primeiro lugar, parabenizo a Espanha pela memorável e histórica campanha da sua seleção de futebol, que conquistou de forma brilhante a Copa do Mundo disputada na África do Sul.

Sensibilizado, agradeço ao honroso convite do Senhor Santiago Campo, Presidente da Associação Cultural Hispano-Galega Caballeros de Santiago, para ser o palestrante das comemorações alusivas ao Dia do Santo Padroeiro da Espanha e da Galícia, que este ano é muito especial, pois é um Ano Xacobeo.

A temática que me foi confiada constituiu-se num desafio: falar sobre “Os Caminhos de Santiago e os Caminhos da Família Taboada”. “Os Caminhos de Santiago” são as rotas históricas que conduzem, desde a Idade Média, os peregrinos ao sepulcro do Apóstolo Santiago. “Os Caminhos da Família Taboada”, que em alguns momentos se cruzaram com os caminhos percorridos pelos romeiros, foram as vias por onde começou a saída da Galícia de pessoas com o sobrenome Taboada.

Na verdade, “Os Caminhos da Família Taboada” simbolizam a homenagem que o Presidente Santiago Campo quis prestar a uma família que se transformou, na concepção dos historiadores, num dos símbolos do Rio Vermelho, bairro onde foi construída a sede própria de Caballeros de Santiago, instituição semeadora da cultura hispano-galega na Bahia.

E tudo nos remete a Santiago de Compostela, que fica localizada na província de A Coruña.
Classificada pela Unesco como ‘Cidade Patrimônio Mundial’, possui um centro histórico riquíssimo
e uma das universidades mais antigas da Europa. É a capital da Galícia, região autônoma da
Espanha, formada por quatro províncias: Ourense, Lugo, A Coruña e Pontevedra.

Santiago de Compostela é também o nome de uma monumental catedral de fachada barroca,
destino de milhares de peregrinos, oriundos de todas as partes do mundo católico, que se
dirigem de forma ininterrupta ao templo onde se encontram o manto de São Tiago e uma arca
onde teriam sido depositados os ossos de São Tiago, um dos doze apóstolos de Jesus Cristo,
martirizado em 44 d.C., em Jerusalém.

Diz a história, que ao redor da atual Catedral de Santiago de Compostela existia um povoado
romano, do qual sobrou uma necrópole, para onde teriam sido transladados os restos mortais do
Apóstolo Santiago. No ano de 814, durante o reinado de Affonso II, foi anunciada a descoberta
da sepultura e o local virou alvo de peregrinações da cristandade, atraindo inclusive o próprio rei,
que após visitar a tumba manda construir uma basílica dedicada à devoção ao Apóstolo.

Com isso, surgiu um novo povoado, que em agosto de 997 foi destruído pelo mulçumano
Al-Mansur. Intacto, permaneceu apenas o sepulcro com os ossos do Apóstolo. O povoado foi
reconstruído e em 1075 iniciada a edificação de um grande templo românico, que iria garantir
a consolidação das peregrinações, transformando Compostela num centro de grande referência
religiosa, na terceira cidade mais sagrada do cristianismo, depois de Jerusalém e Roma.

Entre os vários caminhos utilizados pelos peregrinos, para chegar a Santiago de Compostela,
a “Jerusalém do Ocidente”, três são considerados como principais: o Francês, o Português e o
Inglês.

O Caminho Francês é por onde convergiam os cristãos que partiam de todas as regiões
da Europa situadas fora da Península Ibérica. Começava nos Pirineus, na localidade francesa de
Saint-Jean-Pied-de-Port, e penetrava na Espanha por Roncesvalles, localizada na província de
Navarra, donde os peregrinos seguiam até Santiago de Compostela, num percurso de 800 quilômetros.
É considerado o caminho de peregrinação mais famoso do mundo.

O Caminho Português partia de Tui, na margem direita do Rio Minho, na província de Pontevedra.
Depois de atravessar o Minho, os peregrinos vindos de Portugal percorriam 130 quilômetros
para chegar a Santiago de Compostela.

O Caminho Inglês iniciava-se em Ferrol, localidade portuária na província de A Coruña, onde
desembarcavam os cristãos vindos da Inglaterra, Gales e Irlanda, para uma caminhada de 120
quilômetros, até Santiago de Compostela.

Ao longo dos percursos desses três caminhos medievais, juntavam-se vários outros, dentre
eles o Caminho Aragonês, o Caminho da Prata, o Caminho Primitivo, o Caminho do Norte ou
Cantábrico, o Caminho da Ria de Arousa e o Caminho de Finisterra.

No século XIII, quando já estava sedimentada a extensa rede de itinerários que levavam os
romeiros de toda a Europa à Catedral de Santiago de Compostela, tem-se as primeiras notícias de
membros da Família Taboada já fora do seu núcleo de origem, que foi a atual cidade de Taboada,
localizada na região central da Galícia, no vale do Rio Minho, na província de Lugo, encostada na
divisa com a província de Pontevedra.

Pelos caminhos do vaivém dos peregrinos, os Taboada começaram a sair da Galícia, tomando
duas direções: rumo sul, com destino a Portugal e regiões do sul da Espanha; e para o norte, em
demanda ao norte da Espanha e à França, o portal por onde, aos poucos, foram se espalhando
pela Europa.

Com a descoberta da América, os integrantes da Família Taboada começaram a atravessar o
Atlântico. Inicialmente, dirigiram-se aos territórios ocupados pela Espanha no Novo Mundo, da
América do Norte à América do Sul. Depois, estabeleceram-se em terras brasileiras, de norte a sul.
Vieram no período mais acentuado da imigração, que foi na segunda metade do século XIX e na
primeira metade do século XX.

O primeiro Taboada que se tem notícia na Bahia foi José Taboada Vidal, meu avô, nascido no
dia 26 de novembro de 1877, em Cerdedo, na província de Pontevedra. Desembarcou no porto
de Salvador em 22 de novembro de 1892, quatro dias antes de completar 15 anos de idade. O
jovem imigrante foi levado no mesmo dia para trabalhar no Rio Vermelho, um balneário turístico
onde as famílias abastadas do centro de Salvador possuíam casas de veraneio.

Além de agregar o núcleo dos veranistas, o Rio Vermelho possuía uma importante colônia
galega, que monopolizava o comércio local. E foi como comerciante, dono do Armazém Rio
Vermelho, do Café Taboada e da Confeitaria Oceânica, que José Taboada alcançou êxito na vida
profissional e prestígio na sociedade local.

José Taboada Vidal faleceu no Rio Vermelho, em 2 de maio de 1967, no sobrado em que residia,
no Largo de Santana, aos 89 anos de idade. Imediatamente, o vereador do bairro, professor
Aurélio Ângelo de Souza, deu entrada no Projeto de Lei Nº 41, dando à antiga Travessa Santana,
eixo de ligação do Largo de Santana com a Rua Conselheiro Pedro Luiz, uma nova toponímia,
denominada Rua José Taboada Vidal, oficializada pela Lei Nº 1998, de 7 de julho de 1967.

Na exposição de motivos encaminhada à Câmara Municipal, para justificar o merecimento
da homenagem, o vereador, além de nominar as qualidades de José Taboada Vidal, classificou-o
como “Benemérito do Rio Vermelho”, um título alicerçado no fato do ter sido o principal baluarte
na construção da nova Igreja Matriz de Sant’Ana do Rio Vermelho, inaugurada em 26 de julho de
1967, 85 dias após o falecimento do seu grande benfeitor.

A biografia completa do meu avô encontra-se registrada no livro ‘José Taboada Vidal, Benemérito
do Rio Vermelho’, escrito por Ubaldo Marques Porto Filho, cujo lançamento ocorreu aqui, neste
Auditório, no dia 21 de novembro do ano passado, quando Caballeros de Santiago comemorou
49 anos de fundação e o Rio Vermelho encerrou as festividades dos 500 anos da sua descoberta,
em 1509, pelo galego Diogo Álvares Corrêa, o Caramuru.

E no bairro em que o galego José Taboada Vidal viveu por 75 anos, a Associação Cultural
Hispano-Galega Caballeros de Santiago construiu a sede própria, inaugurada em 1989, no Dia de
São Tiago, 25 de julho, dia do martírio do Apóstolo.

E sempre que o 25 de julho cai num domingo – dia da semana em que os restos mortais
do Apóstolo foram encontrados –, celebra-se o Ano Jubilar do Apóstolo Santiago, também denominado
de Ano Xacobeo. Em Santiago de Compostela, os festejos se estendem durante o ano
inteiro, movimentando mais ainda o turismo religioso.

O Ano Xacobeo, além de ser uma evocação ao Santo Padroeiro da Galícia e da Espanha, nos
remete à Idade Média, quando começaram as peregrinações ao sepulcro de São Tiago e também
as saídas de galegos de suas aldeias, pelos mesmos caminhos utilizados pelos romeiros.
Como já disse anteriormente, membros da Família Taboada, como de tantas outras famílias,
fizeram uso dessas vias para se espalharem pela Europa, antes de buscarem a realização de seus
sonhos nas Américas, do Norte, Central e Sul.

Tenho a certeza de que aqui, nesse recinto, também se encontram, como eu, vários descendentes
de famílias que forneceram participantes para as epopéias das emigrações que começaram
pelos Caminhos de Santiago. Congratulo-me com vocês, que representam famílias galegas cujas
raízes remontam ao período medieval.

O Ano Xacobeo 2010 coincidiu com o Ano do Cinqüentenário da fundação de Caballeros
de Santiago, razão determinante para comemorações especiais, reforçada pelo fato de que o
próximo Ano Santo somente ocorrerá daqui a onze anos, em 2021.

E neste Ano Santo de 2010 tive a honra de ser admitido na Diretoria dessa entidade. Com
isso, passei à condição de primeiro descendente de José Taboada Vidal a ocupar um cargo na Associação
Cultural Hispano-Galega Caballeros de Santiago.

Finalmente, deixo consignado o meu orgulho pelo privilégio de estar participando de Caballeros
de Santiago, associação difusora da cultura da terra dos meus avós e que congrega galegos
e seus descendentes, formadores da segunda mais numerosa colônia galega numa cidade da
América do Sul.

O meu muito obrigado a todos e em especial ao presidente Santiago Coelho Rodríguez Campo,
padrinho do meu ingresso no quadro diretivo desta conceituada casa cultural.

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